terça-feira, 17 de julho de 2012

Sem voz

O câncer na corda vocal tem um grande inconveniente para qual nem sempre estou disposto a ter paciência: a perda quase total da voz.

Como a radioterapia bombardeia o câncer diariamente, o local fica muito sensível a qualquer vibração e incomoda muito quando forço para tentar ser compreendido.

Não me acostumei ainda a falar com gestos, embora seja descendente de italianos, nem sei usar a linguagem dos sinais.

Falar, só agora me dou conta, é das melhores coisas da vida. Poder se expressar revelando seus sentimentos pela voz é diferente do ato de escrever. Por isso, admiro os atores, os cantores e os oradores.

Gosto de ouvir poesia lida em voz alta, não precisa ser declamada, assim como adoro Luciano Pavarotti e Plácido Domingo (que estará em Fortaleza para a inauguração de uma fábrica em agosto), além da minha cara Maria Callas cantando Verdi, Bellini ou Rossini.

Estou praticamente mudo porque me cansa dizer alguma coisa, mesmo sussurrada. Passei sábado e domingo em casa lendo, vendo filmes e televisão. Não abri a boca, a não ser para comer já que a fome continua a mesma.

O médico diz que após as 33 sessões de radioterapía, se tudo estiver bem, a voz voltará aos poucos, talvez mais grossa, provavelmente bem mais grave.

Até lá, estarei atento a tudo que ouço.

Afinal, compreendo o poder do silêncio dos monges trapistas e o bem que faz uma meditação. Mas estou contando os minutos para voltar a falar porque descobri que é muito bom você poder dizer o que pensa e como pensa.

Por isso, minhas saudades dos tempos da Rádio JC/CBN ao lado de Aldo Vilela e das participações em entrevistas convidado por Geraldo Freire na Rádio Jornal.

Definitivamente, não nasci para ficar calado.

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