segunda-feira, 2 de julho de 2012

Batismo de fogo

 Aos 80 anos e com um câncer na laringe, ela é das mais animadas com a recuperação progressiva e com a diminuição das sessões de radioterapia.
 
"Fumei durante 60 anos e agora luto por mais vinte", revela a senhora sempre sorridente e que, como eu, tem horror àquela "máscara de ferro" que nos impede de mover a cabeça durante a radioterapia, mas que sufoca. E o diagnóstico chegou após persistente rouquidão e perda da voz (semelhante ao meu caso).
 
Ao lado de sua acompanhante, sempre de bom-humor e falante, ela me passa a segurança de que a melhor terapia para o câncer é mesmo o afeto. Que o digam as filhas, uma vive no Recife, está quase todos os dias com ela; a outra, residente no Rio de Janeiro, retorna ao Recife pelo menos uma vez por mês para estar com a mãe.
 
As quatro, por sinal, já planejam uma festa para o dia depois da alta médica e o término, enfim, da radioterapia, das dores, das incertezas.
 
Uma festa que terá início com uma missa de ação de graça e um almoço para familiares, amigos e admiradores, que são muitos.
 
Sugiro que o chão seja coberto com folhas de canela, eucalipto ou mirra. "Mas isso é coisa de batizado", lembra a senhora com um sorriso de aceitação.
 
A intenção é essa, explico. Afinal, a senhora festejará o seu segundo batizado, em nome de uma nova vida após tanto sofrimento.
 
Um batismo de fogo.

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